Renan foi o segundo a sair pela porta, carregando consigo nada mais que sua mochila e sua pá. Minha mãe, como eu disse, havia saído apenas com as nossas malas. Será que ninguém se lembrou dos suprimentos? Com pressa, enchi um saco plástico com garrafas d’água e alguns pacotes de biscoito. Corri até o elevador, todos me esperavam.
-Droga, cadê meu bastão de ferro? – Lembrei. Há poucas horas, ele havia caído em frente à porta de minha casa, mas já não estava lá. Muitas coisas estranhas estavam acontecendo. –Aguardem um minuto! – Corri de volta para casa e abri a segunda gaveta da cozinha. Peguei dois facões de carne, de forma rápida. Anigamente eu gastava dias inteiros treinando arremesso dessas facas, por pura diversão.
-Chegou! – Renan me chamava do corredor. Apressei-me a trancar a porta e fui ao seu encontro. Com certeza este seria o passeio mais arriscado de minha vida. A começar pelo fato de que ninguém sabia, com certeza, onde procurar pelo ônibus. Tudo estava seguindo um rumo indesejado. Nunca gostei de improvisos.
Descíamos os andares de forma veloz. Enquanto parava, a maquinaria deu um forte solavanco, assustando a todos. Alarme falso. Assistimos com apreensão as portas se abrirem: Uma brisa fria envolveu o ambiente. Calafrios percorreram todo o meu corpo. Lá estava eu, de volta para o térreo. Depois de tanto desespero para chegar a minha casa, já estávamos partindo novamente.
Tudo estava tranquilo e seguro. Minha mãe arrastava sua mala pela pequena rampa até o portão de entrada, causando um grande barulho que ecoava por toda a estrutura. Olhei para o céu. Um azul se estendia por tudo o que meus olhos podiam alcançar.
-Matheus! – Me virei rapidamente, Renan estava de pé, olhando insistentemente para uma parede.
-O que tem aí?
-Nada! Este é o problema, não tem nada! Cadê o corpo?
Surpreso, corri até meu amigo. Sem reação, vi que o corpo que há pouco tempo ele arrastava para fora do elevador havia desaparecido. Em seu lugar não havia nada. Sumiu sem deixar rastros, a não ser a parede manchada com uma longa marca vermelha.
Ouví então um som familiar: Minha mãe havia aberto o portão. Olhei para o exterior, assustado. Novamente chegava o momento de enfrentar a morte, andar por aquelas ruas, certamente, era algo que eu não pretendia fazer novamente tão cedo.
Há um longo tempo atrás meu pai teve a ótima ideia de vender o segundo carro da familia. Eu aposto que ele não sabia que precisaríamos do carro num momento como esse. Falando nisso... E meu pai? E minha pequena irmã de oito anos? Era um emaranhado de dúvidas em minha cabeça. Quantas das pessoas que eu conhecia realmente sobreviveram?
Não havia tempo para desperdiçar pensando em coisas inúteis. Era necessário sair dali, encontrar o ônibus e fugir da cidade. De preferência sem ninguém ser mordido - ou morto. Eu começava a acreditar que minha mãe estava certa, era um bom plano ir atrás de uma evacuação. Tudo isso era só uma crise repentina. Logo iria passar.
Saímos então do condomínio. Um clima de suspense dominava a cidade. Agora não era mais tão difícil encontrar os desmortos. Havia pelo menos um em cada esquina, mas geralmente passávamos despercebidos. Houve uma ou duas vezes que eu tive de intervir.
Caminhamos tranquilos pela cidade por cerca de quarenta minutos. Foi quando tivemos de parar num cruzamento, encolhidos atrás de uma árvore. Carros batidos dominavam toda a pista. Cerca de vinte infectados andavam, cambaleando, por entre os veículos.
-Eu tenho uma pá. – Disse Renan. Dei uma breve risada enquanto tirava as facas da bermuda.
-Fiquem aqui, em silêncio. – Minha mãe avisou. Ela soltou as malas recostadas em um canto e começou a procurar por algo no chão. Inclinei-me para tentar descobrir o que ela estava olhando. Depois de alguns segundos, Rosana se virava com um objeto amorfo em mãos. Uma pesada pedra de concreto.
-Toma- Ela estendeu o braço para mim. – Joga isso naquele caminhão ali. Bem no pára brisa. – Ela apontava para um caminhão do outro lado da rua, não tão distante. Fiz mira e arremessei a pedra, com alguma dificuldade. Depois de poucos segundos viajando no ar, ela se choca com o pára-brisa dianteiro do veículo, causando um estardalhaço. Nesse momento pensei que seríamos cercados e devorados. Fiquei surpreso ao ver que nenhum zumbi notou a minha movimentação brusca de arremesso, todos seguiram na direção do barulho, liberando assim o nosso caminho.
-Que legal! – Renan exclamou. Minha mãe sorriu para nós dois e então seguimos todos andando. O relógio já marcava quase cinco horas da tarde quando chegamos ao centro da cidade. Tudo estava muito pior lá. Não eram dezenas, mas sim centenas de indivíduos canibais passeando pelas sombras.
Andávamos por dentro dos edifícios, as ruas estavam completamente tomadas. Paramos então para descansar dentro de uma pequena loja de roupas. Minha mãe sentou-se, soltando um suspiro de alívio. Deixei as persianas semi-fechadas, a ponto de conseguir enxergar o exterior. Percebí que os postes de iluminação já estavam acesos. Em pouco tempo perderíamos a luz do sol.
meu irmao muito boa a historia! sou da comunidade do orkut sobrevivendo a zumbis ke vc divulgou! muito bom seu trabalho!
ResponderExcluirÉ verdade o que dizem, divulgação FAZ diferença
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