quinta-feira, 28 de julho de 2011

David da Silveira

Idade: 15 anos

Descrição física: Cabelo Preto Curto, 1.70, 57kg.

Descrição psicológica; Luto karatê (faixa marrom), eu sou inteligente e fissurado em jogos e filmes de zumbis. Tenho uma katana e luto muito bem.
História:

    Eram três horas da manhã, e eu como de costume, estava assistindo filmes sobre zumbis, quando de repente meu pai abriu a porta do meu quarto e começou a gritar:
-Moleque, desliga já essa merda de computador e vai dormir, daqui a pouco você tem aula!
   Escola era uma coisa que não me interessava mais. E eu tinha os meus motivos para isso. - Ta bom, você acredita mesmo que eu vá pra aula? – Respondí, com um tom de arrogância.
   Fechei a porta do quarto e fui me deitar. Acordei já eram 8 horas da manhã e não tinha mais ninguém em casa. Agora mesmo que eu quisesse, não poderia ir para a escola. Como não tinha ido pra aula, resolvi ir à academia treinar um pouco.
   Quando estava indo para a academia, me deparei com um homem tentando assaltar uma mulher. Lembrei dos meus conhecimentos de karatê de como desarmar uma pessoa. Eu sempre tive a mania de bancar o herói. Intervi no assalto e desarmei o assaltante. Nesse momento, a porta de um carro se abriu do outro lado da rua. Um homem apareceu armado, parecia mirar em mim com uma pistola.

-Merda, era uma dupla! – Sem reação, ouví o som do disparo. O tiro me pegou em cheio no peito. Caí ao chão, ouvindo minha própria respiração. Deitado, enxergava o contorno dos bandidos se afastando correndo.
[...]
   Pude perceber que havia dormido por bastante tempo, quando percebí que meu corpo estava todo dormente. Abrí os olhos lentamente e notei que estava no interior de uma sala médica. Haviam equipamentos por todo o meu corpo. Ouví um som de batida e notei que a porta estava bloqueada por dentro. Tinha uma cadeira presa à maçaneta, impedindo que a porta se abrisse. Mais atrás, prateleiras caídas no chão.

- Ei David! – Era minha amiga Thais, ela tinha ido me visitar. Provavelmente sabía o que estava acontecendo.

- O que tá rolando?! Porque a porta tá trancada? – perguntei.
Ela parecia não saber como explicar. Tentando se mostrar compreensiva, respirou fundo e falou:
 - Bom, o mundo virou um inferno, as pessoas estão morrendo e voltando a vida, quando cheguei aqui pra te visitar, um homem estava na sala de espera se sentindo mal, de repente ele morreu, não deu cinco minutos e ele levantou e começou a morder as pessoas, eu vim correndo pra cá e joguei aquelas prateleiras na porta pra que ele não conseguisse entrar aqui, foi tudo muito horrível!
   “merda, será que o apocalipse começou mais cedo?” levantei vagarosamente da cama, com muita dor, e abracei minha amiga pra ver se ela ficava mais calma.

- Calma, vai ficar tudo bem.

   Fui até a porta e a abrí lentamente. Lá fora, o corredor estava repleto de sangue, e uma pessoa se afastava mancando. Tirando isso, estava tudo bem.
   Como o hospital fica perto da minha casa, fomos correndo até ela, quando chegamos lá, tudo estava deserto. Não havia ninguém na rua. Entramos em minha casa, pegamos suprimentos na geladeira e nos trancamos no quarto que era dos meus pais pra aguardar notícias. Esperar era tudo o que nos restava.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Capitulo 12 - Quarentena

 
   A minha visão estava embaçada, tudo parecia girar ao meu redor. Eu conseguia apenas distinguir vultos que se moviam a minha volta. Uma pessoa se aproximou e falou comigo. Reconhecí a voz de um amigo na primeira palavra.
-Matheus? Você ta bem, cara?– Lucas me perguntava. A imagem ía aos poucos tomando silhuetas mais definidas para mim. Estávamos em uma pequena sala fechada, atrás de uma grande parede de vidro. A cela tinha um colchão ao canto e uma privada em péssimas condições. A minha cabeça ainda doía bastante. E meu corpo em geral estava dolorido.
    Olhei para mim mesmo: Eu vestía uma roupa completamente branca. Camisetas e calça comprida. Roupas largas, sem nada por baixo. E também estava descalço. Era a mesma vestimenta de Lucas. Eu não me lembrava de ter posto aquela roupa em meu próprio corpo. Eu me sentía limpo, de uma forma que não estava desde o início da infecção.
-Estamos... Presos? – Perguntei, com uma mão no alto da cabeça, no lugar da coronhada que havia levado.
-Eu não diria “presos”. O pessoal daqui falou que era mais como uma quarentena. – Ele respondeu, parecendo confuso.
-Você sabe o que é uma quarentena, Lucas? A gente ta preso de qualquer jeito, cara.
   Somente nós dois estávamos naquela cela. Onde estavam os outros, afinal? Olhei pela janela o dia nublado que estava lá fora. Pelo menos ali dentro nós estaríamos seguros. Segurei-me pela grade para poder ver o que acontecia no exterior: Soldados marchavam por todo o lugar, com armas em mãos. Mais distante, era possível de se ver um heliporto onde havia uma grande movimentação de aeronaves. No alto das torres, atiradores se posicionavam e miravam o horizonte, em busca de infectados. Volta e meia se ouviam disparos.
-Você também passou pela chuveirada? – Lucas me perguntou.
- Ãnh... Chuveirada? Do que você ta falando?
-Quando a gente entrou, os militares nos separaram e passamos por uma forte... Ducha. Nos falaram que era tipo um procedimento padrão. – Lucas levantou a calça até a coxa e mostrou um hematoma. – Até agora eu to com o corpo doendo.
-Ah, então é isso. Eu também to todo dolorido. –
   Em uma cela à nossa frente, estava um senhor de idade sentado em seu colchão. Ele parecia perdido nos seus próprios pensamentos. Por um instante, pensei em fazer-lhe algumas perguntas. Mas a situação dele não era muito diferente da nossa.
   Com um rangido, a porta de vidro da cela se abriu. A porta era tão grossa quanto uma parede de concreto. Um homem estava parado do lado de fora, acompanhado de mais dois guardas. Era um adulto, parecia ter os seus trinta e poucos anos. Tinha o cabelo escorrido e usava óculos. Segurava uma prancheta em uma mão e uma caneta na outra.
-Você – Ele disse, apontando para mim. Tinha uma voz meio rouca, abafada. – Venha comigo. -
  Saí de perto da janela, tentando não demonstrar mau comportamento. Seguí o homem até o exterior da cela. Um dos seguranças trancou a porta enquanto caminhávamos pelo corredor. Era um lugar bem iluminado, pintado em cores claras.
   Andamos até o final do corredor, onde havia um grande portão de metal. De novo eu pude ver as iniciais lá estampadas. Um dos homens me disse para ir na frente, e assim eu fiz. Ao me aproximar, as portas se abriram automaticamente.

   Era uma pequena sala, com uma maca posicionada ao centro. Havia espelhos nas paredes, de onde com certeza alguém estava a nos observar.
-Sente-se ali, por favor. – O homem com a prancheta falou, indicando a maca para mim. Fui até lá. – Olá, meu nome é William, mas me chame de Doutor Brooks. – Ele falava para mim. Tinha um leve sotaque estrangeiro, mas não tão acentuado quanto o dos outros. – Eu vou te fazer algumas perguntas e uma série de exames. Não tente fazer nada contra mim e nem contra a minha equipe. É tudo para o seu bem. Consegue me entender?
-Sim. – Respondí, acenando com a cabeça.
-Que bom. Vou começar tirando um pouco de sangue, okay? – Disse William, enquanto preparava uma seringa. Esperei pacientemente enquanto ele fez todo o procedimento. O homem etiquetou o frasco do meu sangue e guardou-o em uma espécie de geladeira no fundo da sala.
-É um vírus? – Perguntei. William ficou sem reação por alguns instantes. Olhou para o grande espelho na parede, como se esperasse que alguém lhe dissesse o que fazer. Voltou o seu olhar para mim e tirou os seus óculos.
-Olha garoto, é uma situação delicada. Nós ainda não sabemos de muita coisa, e a maior parte do que sabemos é confidencial. – Ele deu um suspiro. – Não queira tornar as coisas ainda mais complicadas. –
   Observei o homem por alguns instantes. O doutor pegou um instrumento médico e voltou em minha direção. Pediu que eu me deitasse novamente e abrisse bem os olhos. Em seguida apontou um pequeno objeto em minha direção e acendeu uma luz, como uma lanterna, que ele apontou para os meus olhos.
   Fizemos mais alguns exames e testes, muito minuciosos. Eu ainda me perguntava se aquilo tudo seria mesmo necessário. Afinal, eu estava bem, não estava?
[...]
   Eu era acompanhado de volta à minha cela por dois soldados. William havia ficado na sala, dizia ele que ‘examinaria o meu sangue’. Pelo caminho, ví o que parecia ser um cadáver numa maca. Estava coberto, podia ser outra coisa. Médicos carregavam-no apressadamente em direção à sala de William.
-Matheus! – Alguém gritou. Olhei para o lado e ví Amanda, em sua cela. Estava acompanhada de outra mulher, adulta. Foi muito rápido, não deu para ver detalhes.
-Andando. – Disse um dos militares para mim, enquanto me apressava.
-Estou bem! – Gritei para Amanda, esperando que me ouvisse. Só tive tempo de interromper a minha queda com os braços. Eu estava dentro da minha cela novamente, um dos soldados ria de mim. Provavelmente o que me empurrara.
-Você. – Disse o outro apontando para Lucas. – Venha com a gente, agora. –
   Meu amigo passou por mim, ele parecia estar com medo. Eu também estava. Era ruim estar subordinado a outras pessoas. Preso em um lugar sem saber o que eles vão fazer, sem saber se você está em segurança ou não.
   Olho pela janela novamente. Ao longe, posso ver alguns infectados, cerca de vinte, se aproximando. Não eram muitos, os atiradores dariam conta em pouco tempo. E assim aconteceu. Depois de algum tempo de mira, como se esperassem que os zumbis simplesmente fossem embora, os militares dispararam, matando todos eles. Ainda tinham muito que aprender.
   Olho para o colchão ao canto. Sem escolha, sento-me nele e aproveito o pouco tempo que temos para poder pensar. Olho para a minha vestimenta. Onde será que estavam as minhas roupas? Devago por alguns minutos, perdido em lembranças e pensamentos tristes.
   De repente, Lucas é empurrado para dentro de novo. Ele tem um sorriso no rosto, está diferente. Diferentemente de mim, ele não caiu ao ser empurrado.
-Cara, eu achei o pessoal. Eles estão bem!
-Você ta falando do nosso pessoal?
-É! A Amanda... O Marcos... Todo mundo. Eles estão na mesma cela, pelo que parece. Eu me encontrei com o João no caminho, ele estava fazendo testes físicos numa esteira. –
   Lembrei de alguns momentos atrás, quando tive de fazer o mesmo. William aumentava e diminuía a velocidade, como se quisesse ver o meu limite.
   De qualquer forma, aquele cadáver na maca não saía de minha memória. Começaram a me vir lembranças da morte de Luís. Eu tinha abandonado ele no meio do caos, e meu amigo não tinha nem como se defender naquela hora... Não era justo com ele. Eu deveria ter ajudado. Minha mãe tinha morrido também, vítima dos disparos desses agentes. Os mesmos que estavam lá fora agora mesmo. O homem no hotel... Foi achado e devorado vivo por culpa nossa. Meu deus... Era tudo culpa minha.
-A gente precisa sair daqui. – Eu disse, olhando pela janela. A luz estava acabando, e a noite chegaria novamente. –Esses caras vão acabar nos matando. -
-Sair daqui? – Lucas perguntou assustado. – Mas estamos seguros! Não viu quantos soldados têm lá fora? E além do mais, para onde a gente iria?
- Você se lembra de quando eu e o Marcos fomos naquela loja de conveniências em Mangaratiba?
-Lembro sim.
- Então... Ele deu um único tiro dentro da loja, para matar um zumbi. Logo depois tinha uma multidão deles correndo para cima da gente. Mas os demais não tinham nos visto, apenas ouviram o disparo. Eles foram atraídos pelo som. – Fiz uma pausa. Lucas parecia perplexo.  – E esses militares estão atirando toda hora. Quando a gente chegou, não tinha nenhum infectado. Agora pouco, tinham vinte vindo para cá. E eles não param de atirar. Vai chegar uma hora em que não vai ter como se defenderem. –
   Lucas parou e pensou no que eu havia dito. Ficou alguns instantes absorvendo as palavras.
-Talvez isso seja verdade, mas eu não tenho certeza de que eles são atraídos pelo som.
-E você quer arriscar? –
   Lucas olhou pela janela, observando os militares lá embaixo. Nas torres, parecia ocorrer uma mudança de turno.
-Ta legal. Mas para onde a gente vai? E como vamos fugir daqui? –
-Para onde estávamos indo antes de nos pegarem? – Perguntei, pensando em nossas possibilidades.
-Eu sei lá... Para um refúgio, talvez.
-É... Pode ser. Mas seria melhor sair da cidade. Procurar algum lugar que não foi infectado. Sobre como a gente vai sair daqui, nós podemos ver isso mais tarde.  Você ta comigo ou não? –
   Eu propus, estendendo o braço. Lucas se aproximou e apertou a minha mão, em sinal de parceria. Sorrí para ele. Um sorriso falso. Tínhamos chances remotas de conseguir fugir dali. Mas o nosso futuro era incerto de qualquer jeito.
- A gente só precisa avisar o resto do pessoal. – Ele lembrou.
-É verdade... Você tem alguma ideia de como fazer isso?
-Não. –
   Entreolhamos-nos por alguns instantes. Lucas parecia disposto a qualquer maluquice para continuar vivo. Isso era bom, era nesse tipo de coisa que ele me lembrava de mim mesmo.
-Eu tenho um plano. – Falei. – Mas você vai precisar seguir à risca, sem hesitar. Ta me entendendo?
   Lucas acenou com a cabeça, ele compreendia a gravidade da situação. Desviei o olhar por alguns instantes. Agora não importava mais se alguém morreria no caminho. Não importava mais se todos morressem tentando fugir dali, pelo menos não faria diferença para mim. Eu já não tinha mais nada a perder. Sinto um sorriso tomar conta de meu rosto enquanto penso em tudo isso.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Capitulo 11 - Novas ameaças

   O Sol se punha rapidamente, enquanto a noite deitava o seu manto de sombras sobre todos nós. Já fazia três dias e três noites desde que tudo aquilo começou. Desde que todos começaram a se matar nas ruas. Os ponteiros de meu relógio já não se moviam mais. Eu havia até esquecido de que tinha um relógio em meu pulso.
  Em relação aos sobreviventes... Agora se tornava cada vez mais raro encontrar alguém que não cheirasse a carne podre e não tentasse nos matar em cada esquina.  Diferentemente do primeiro dia, agora nós tinhamos tempo para pensar nas coisas. Pensar e lamentar pelas decisões que havíamos tomado. O homem do hotel não saía de minha cabeça. Ele tinha morrido por nossa culpa.
-Acho melhor fazermos uma fogueira para passar a noite. – Marcos falou, enquanto observava de pé o pôr do sol.
-Eu sei como acender uma fogueira. E também tenho conhecimentos de sobrevivência em geral. A gente pode ficar aqui por algumas semanas, se quiserem. – Lucas disse.
-Valeu MacGyver, mas não será necessário. Eu tenho um isqueiro comigo. - Marcos tirou um Zippo de sua jaqueta. O isqueiro tinha um anjo desenhado em alto relevo do seu lado direito. O anjo da morte. – Além do mais, a gente não vai poder passar muito tempo aqui. Logo eles vão sentir o nosso cheiro, e vão aparecer zumbis por todo o lado. –
- Eu e o Matheus vamos buscar lenha. – Amanda falou. Marcos deu um sorriso malicioso enquanto verificava a munição de sua pistola.
   Lucas e João continuaram a conversar em um canto mais afastado enquanto nós dois caminhávamos matagal adentro. Ela tirava a vegetação do caminho com o seu machado, enquanto eu apenas a acompanhava.
-Acho melhor pegarmos um pouco dessa palha mais fina aqui. – Ela disse, apontando para um punhado de capim seco. –Daria uma boa mecha, não acha?
-Mecha? Você entende de fogueiras, também? – Perguntei surpreso.
-Eu saía para caçar com o meu avô de vez em quando. Ele me ensinou tudo o que eu sei. – Ela disse sorrindo. Avistei alguns gravetos mais distantes que fui recolhendo. -Mas e você? – Amanda continuou. – Qual é a sua história?
   Contei a ela tudo o que havia acontecido até o momento em que a conhecí. Falei de todos os que eu assistí morrer, revivendo cada detalhe daqueles tristes momentos. Falei de Renan, e que eu ainda acreditava que ele estivesse vivo. Contei a ela tudo o que eu conseguí me lembrar.
   Amanda me olhou demonstrando certa compaixão. Entendía a minha tristeza, porque sentía o mesmo que eu. Provavelmente ela deveria saber o que é perder um ente querido. Qualquer um de nós sabia.
   Andei alguns passos em sua direção, carregando a lenha que havia recolhido. Além dos gravetos, tinha pegado também uma tora de madeira que deveria sustentar o fogo por algum tempo. Amanda segurava um bocado de palha fina.
   A noite havia chegado. O céu estava limpo, e a lua brilhava fortemente. Era uma noite estrelada. Acendí a lanterna e iluminei o caminho de volta. Retornamos calmamente pelo mesmo caminho e encontramos todos reunidos, conversando. Estavam parcialmente iluminados pela lanterna traseira do veículo parado.
   Marcos estava sentado sobre a mala de seu carro, com a inseperável garrafa de uísque ao seu lado. Lucas e João estavam de pé. Eles gargalhavam alegremente enquanto uma música saía do carro pela porta aberta.
-Ora, ora... Os pombinhos estão de volta! – Lucas exclamou. Notei que ele segurava um copo de bebida, assim como João. Os dois demonstravam leves sinais de embriaguez.
-Que droga, Marcos! Eles nem tem idade pra beber ainda! – Eu reclamei.
-Não fui eu quem oferecí. Eles dois pediram, e eu não tinha motivo para negar. Agora não tem isso de idade. Bebe quem quiser e acabou. –
   Sem argumentos para uma discussão, comecei a montar uma fogueira. Amanda havia ficado no carro, descansando um pouco. Aquele devia ter sido um dia bem agitado para ela. Pelo menos para mim, foi.
[...]
   Marcos e o resto do grupo estavam sentados em volta da fogueira, assando marshmallows e conversando. Abrímos um pacote de batatas fritas que iríamos comer enquanto o sono não chegasse.
   Amanda saiu do carro após cochilar por pouco mais de uma hora. João estava contando sobre sua família, falando sobre as viagens que costumava fazer. Eu não estava nem um pouco preocupado em ouvir o que ele dizia. Com o crepitar da fogueira, vinham lembranças de minha mãe. A mãe que eu havia perdido. Ví Lucas se levantando.
-Tive uma ideia, pessoal. Que tal a gente contar a nossa história de sobrevivência? Assim passamos o tempo e aproveitamos para nos conhecer melhor. – Ele sugeriu, enquanto olhava para nós. Todos concordaram com a ideia, e assim começaram as histórias.
   Amanda quis começar, e aumentou um pouco o tom de sua voz para que fosse ouvida por todos. Cabisbaixa, ela demostrava certa tristeza em narrar os acontecimentos.
-Bom... Tudo começou em Angra. Pelo menos para mim, começou lá. Eu estava na escola, era um dia normal de aula. Foi quando as coisas mudaram. Um cara entrou na minha sala e simplesmente mordeu uma amiga minha que estava sentada em seu lugar. Jorrou muito sangue. – Uma lágrima percorreu o rosto de Amanda enquanto ela contava a história. – Ainda me lembro de ouvir os gritos da Clarinha. Todos correram desesperados, tentando sair da escola. Quem tropeçasse acabava caindo, e quem caía era pisoteado. Dava pra ouvir as costelas quebrando, foi horrível... Foi horrível... –
- Você não precisa falar se não quiser. – Lucas disse, preocupado com a situação de Amanda.
-Não... Eu vou continuar. – Ela respondeu, limpando as lágrimas com a camisa. - Então eu corrí para a minha casa, sem levar mais nada. Ficava a mais ou menos vinte minutos da escola. Eu cheguei em cinco. Tive o azar de encontrar o meu pai atacando toda a familia. Foi um caos total. Ele já tinha mordido quase todo mundo quando meu avô atirou nele com a escopeta... Mas meu pai se levantou e atacou ele também. Eu só me lembro de ouví-lo dizer para eu vir para a capital, que seria seguro aqui. O resto da história vocês já sabem.
-Sim, nós sabemos. – Disse João, com a expressão abalada. Passamos alguns segundos em silêncio, pensando em sua história.
-Bom... Acho que é minha vez agora. – Marcos se pronunciou. – O início para mim não foi assim tão assustador, porque não assistí ninguém próximo a mim morrer. Então tive a sorte de poder ver tudo com mais calma e estabelecer um plano. Fiquei em casa por muitas horas, esperando que os noticiários dessem boas notícias. Mas foi um mero engano. As coisas apenas pioravam. Ao ver que as evacuações tinham sido canceladas, eu decidí sair de casa. Peguei a minha antiga pistola e acelerei pelas ruas da cidade. Foi aí que pude perceber a verdadeira situação das coisas: No centro da cidade, tudo ardía em chamas. Em Madureira, bairro da capital, havia um trem virado no meio da cidade. Corpos em todos os lugares. Militares corriam e tentavam salvar as pessoas. Em certo momento, eu tentei ajudar... E então pude ver algo que me deixou realmente abalado: Nas fronteiras da cidade, uma criança de mais ou menos sete anos corria em meio à multidão de pessoas tentando passar pelos muros de quarentena. De repente, sem aviso prévio, atiradores começaram a disparar contra os cidadãos. Eles estavam em cima de prédios, com armas equipadas de miras telescópicas. Não havia sequer a chance para revidar. As pessoas íam morrendo uma a uma. E os infectados correndo entre elas. Eu me escondí atrás de um carro, e chamei o menino para vir comigo. Ele apenas me olhou... E foi nesse momento que foi atingido. Morreu antes de cair no chão, com um tiro no peito. –Marcos fez uma pequena pausa. - Isso aqui é dele. – Continuou, tirando um colar de um dos seus bolsos. Em letras de forma, o nome Pedro estava forjado no metal. - Até hoje, penso que eu deveria ter salvado a criança. – Ele finalizou, abaixando a cabeça.
-Está tudo bem, cara. A gente entende você. – Lucas falou, dando leves tapas em suas costas. Eu estava desanimado, e sem a intenção de contar toda a minha história de novo. Então me distanciei um pouco da fogueira e dormí sobre uma cama de palha que havía feito.
   Eu estava em um corredor bem iluminado. Havia uma silhueta humana no final. Era um boneco de papelão com alvos na cabeça e no peito. Entre mim e ele, estava uma pequena mesa branca da altura de minha cintura.  Pelo chão, havia uma marcação, com diversas placas que indicavam a distância. 5, 10, 15 metros... O boneco estava a 20 metros de distância.
-Quando você quiser. – Renato disse, atrás de mim. Abrí a caixa de madeira sobre a mesinha e peguei uma faca. Virei-a e segurei então pela lâmina, fazendo mira. Respirei profundamente por alguns segundos. Eu sabía que Renan estava me observando. Lembrando-me de todos os treinos que havia feito, calculei a velocidade de rotação da faca, e também a distância. Em um impulso, arremessei-a.
   Assistí a faca voar com uma enorme expectativa. Era o meu momento. A lâmina penetrou o boneco sem esforço, próximo ao centro do alvo no peito. Tiro perfeito.
-Boa! – Exclamou Renato. - Agora pegue a faca e traga ela de volta enquanto eu vou dar as instruções de arremesso para o Renan. –
   Adiantei-me em direção ao boneco no final do curto corredor, com passos lentos. Renan estava ansioso para aquele dia, por quê? Tirei a faca do alvo, medindo a profundidade do ferimento.
   Voltei para a posição inicial, onde Renato dava as últimas instruções para Renan. Limpei a lâmina e coloquei-a sobre a pequena mesa com cuidado. Em seguida me recostei a parede atrás deles para observar o lançamento de Renan.
   Ele se concentrou por alguns instantes. Respirou fundo e mirou. Arremessou a faca com vontade: Outro disparo certeiro. Renan virou-se para mim com um sorriso estampado em seu rosto. “Acertei” Ele murmurou para mim. Eu sabía que aquele sorriso não era apenas uma comemoração.
   Um barulho de motor cada vez mais alto se aproximava, o som era quase insurdecedor. Abrí os olhos, que logo foram ofuscados pela luz do dia. Escondí o rosto atrás das mãos por alguns instantes até conseguir enxergar. Por entre os dedos, eu observei a cena: Helicópteros militares voavam rasantes, eram dezenas deles. O som das hélices apenas aumentava. Homens armados com trajes especiais observavam a cidade pelas portas abertas, em uma cena quase surreal.
-Aqui! – Amanda gritava, de pé em cima de nosso carro parado, sacudía os braços tentando atrair a atenção dos militares. As aeronaves passavam por cima de nossas cabeças sem demonstrar nenhum sinal de preocupação conosco. Marcos observava a toda aquela cena sentado sobre o asfalto, com a pistola em mãos.
   De repente, um dos homens apontou arma para nós. Eu pensei que fosse apenas algum tipo de aviso para que não agíssemos contra eles, mas só tive tempo de me jogar para dentro do matagal. O homem fez a mira e disparou uma rajada de forte poder de fogo contra o nosso grupo. Pude ver Amanda correr para longe, enquanto as balas de calibre. 50 penetravam o concreto atrás dela.
   Em estado de choque, fiquei parado enquanto olhava o comboio aéreo se afastar. Tudo ficou em silêncio, como se não existisse mais som nenhum por alguns instantes. Eu observava a estrada por trás do mato, escondido e abaixado.
-Ta todo mundo bem? – Marcos perguntou. Ele estava deitado a alguns metros de distância da pista, envolto pelo capim alto assim como eu. Saí do meu abrigo para ver a situação de Amanda. Ela estava sentada, próxima a fogueira da noite anterior. Olhava para suas próprias mãos, tremendo muito.
-Qual o problema desses caras?! – Ela disse, antes de desabar em choro. Abracei-a e pedí que mantesse a calma.
-O que será que eles vieram fazer aqui? – Perguntou Marcos, enquanto se aproximava. –Não é muito inteligente enviar uma tropa tão grande para o foco da infecção. Eles não arriscariam tantas vidas sem um bom motivo.
-Você acha que eles têm um bom motivo para estar aqui? – Lucas estava intrigado.
-Sim. Mas como vocês viram, com certeza não é por nossa causa. É melhor evitarmos qualquer contato com esse tipo de gente, agora que já vimos o que eles são capazes de fazer. 
-Por que você não atirou neles? – Perguntei.
-Para sermos aniquilados? Não, obrigado. Com a visão aérea eles matariam todos nós sem a mínima dificuldade. Aqueles foram apenas disparos de advertência. Mas pelo menos agora nós sabemos que vamos precisar manter certa distância...
   Marcos interrompeu sua fala ao ouvir o som de motor novamente. Dessa vez ele se aproximava por terra. No horizonte, surgiam furgões pretos. Muitos deles. O plano de evitá-los não parecia ter dado muito certo.
-A gente precisa se esconder! – Lucas gritou, enquanto corría para fora da estrada. Marcos pensou um pouco.
-Se a gente se esconder, eles vão ver o meu carro e nos procurar. Estarão em alerta enquanto nos procuram, atirando em qualquer sinal de movimentação.
-Mata eles então! Eu não quero morrer aqui desse jeito. – Amanda disse exaltada.
-Atirar contra eles? Já viu quantos são? Se você não notou, eu só tenho uma pistola. E eles estarão com armamento muito superior. A nossa única chance... É esperar.
   O comboio agora estava mais próximo. Marcos levantara as mãos um pouco antes de os carros pararem diante de nós. Uma porta de correr se abriu na lateral do veículo. Desceram dois homens armados que miravam em nós. Vestiam roupas especiais, como aquelas contra radiação.
   Usavam fuzis M4A1, equipados de lunetas. Armas feitas para a guerra, utilizadas por muitos exércitos do mundo. Os dois homens se aproximaram lentamente, com as armas prontas para atirar.

-Hands up! – Gritou um deles, com a voz abafada. Vendo que seu comando não havia sido entendido, ele tentou novamente.
-Vocês parrados aí, coloquem as mãos para cima – Ele disse, com um pesado sotaque estrangeiro. Obedecemos a sua ordem e então eles se aproximaram ainda mais. Adiantaram-se na direção de Marcos e algemaram-no. Um deles tirou uma pequena lanterna da roupa e acendeu apontando para o olho dele, como se o examinasse.
   O procedimento se repetiu com todos nós, e então eles nos levaram para o carro. Logo na porta do veículo, um deles nos revistou. Tomaram a minha faca e a arma de Marcos. O restante não estava conosco naquele momento. O machado e a Katana haviam ficado no acampamento provisório. Pude ver as conhecidas iniciais CCAB pintadas em branco no exterior do furgão.
-É só isso? Estamos resgatados? – Amanda perguntou, enquanto nos sentávamos dentro do carro, apertadamente. Um silêncio permaneceu no ar por alguns instantes. Marcos olhou para ela, pensativo.
-Eu não acho que seja isso. –
-Sem converrsa! – Um dos homens gritou do banco da frente.
   O carro tremia conforme acelerava pelo caminho. Nenhum de nós sabia para onde estávamos sendo levados, e a situação se tornava cada vez mais apavorante. Eu sempre fui bom em manter a calma em momentos desesperadores, e isso era até um defeito meu em alguns momentos. Mas foi essa capacidade que me permitiu dormir naquele momento, enquanto esperava pelo desconhecido.

[...]
   Sentindo uma forte dor em meu braço direito, acordei olhando para o concreto. Eu estava deitado no chão, do lado de fora do carro. Estavam todos de pé ao meu lado, caminhando em fila indiana sob o comando de um soldado que continuava com a arma apontada. Será mesmo que eles nos consideravam uma ameaça? Estávamos em um enorme lugar fechado, com cercas em toda parte, onde marchavam soldados de um lado para o outro.
   Cerca de cinquenta metros à nossa frente, havia um enorme edifício, que se assemelhava a uma prisão. Sentí mãos me pegarem firmemente os braços enquanto me levantavam do chão, sem a mínima paciência. Eu estava algemado com as mãos para trás, sem reação. Virei-me contra o agressor e dei um chute na altura de sua barriga. O homem sofria com a dor enquanto eu corrí na direção oposta. Logo muitos deles estavam me perseguindo por dentro do cercado. Tentei correr o mais rápido que pude, porém a única coisa de que me lembro, é a visão de um soldado que corría com uma arma em minha direção. Sentí um forte impacto no alto da cabeça, e então tudo ficou escuro.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Capitulo 10 - Ainda há esperança

 
   -Ela precisa de água. – Eu disse, enquanto observava ainda assustado aquela pessoa que me abraçava tão fortemente. Sentí o calor de seu corpo junto ao meu. Aguardei alguns instantes até que ela me soltasse. Sem dizer nada, a desconhecida apenas nos observou por alguns segundos.
  Era branca, de cabelos lisos e cumpridos. Tinha olhos castanhos claros. Vestía uma calça jeans, uma blusa preta e calçava um allstar.
  Uma brisa leve soprava pela rua, ainda estava um pouco frio. O Sol iluminava aos poucos a cidade, mas até o momento, não era o suficiente para aquecer.
   Marcos me jogou uma garrafa de água, que apanhei no ar. Tirei sua tampa e tomei uma golada para verificar a temperatura. Estava ideal, bem geladinho.
-Quer? – Perguntei, indicando a garrafa em minha mão. A menina me olhou. Ela parecia um tanto desconfiada. Depois de pensar um pouco, acenou com a cabeça dizendo que sim.
   Deixamos que bebesse toda a garrafa, o que não demorou muito. Ela devia mesmo estar com muita sede, e não seria justo negar-lhe água naquele momento. Analisei um pouco a cidade, que parecia acordar. Eu não fazia nem ideia de onde estávamos. Começava a me sentir vulnerável ali.
-Muito obrigada. Eu estava mesmo precisando... – A garota disse, enquanto secava a boca com a costa das mãos.
-Olha! Ela fala! – Disse Marcos com ironia.
-Eu falo... Ando... Mato pessoas que me irritam... – Ela retrucou.
-Ok, então... Vamos nos acalmar, beleza? Acabamos de nos conhecer. – Interví naquilo antes que se tornasse uma briga.
-Eu estava só brincando, foi mal. – Disse Marcos. A menina sorriu.
-Meu nome é Amanda. Como vocês se chamam?
   Eu e Marcos nos apresentamos. Logo depois, ele nos apressou a entrar no carro. Em pouco tempo os disparos atrairiam mais zumbis para aquele local, e ninguém queria ter outro encontro forçado com os infectados.
   Adentramos o veículo, nos apertando um pouco para que coubesse todo mundo. Lucas e João pareciam surpresos com a nova integrante de nosso pequeno grupo de sobrevivência, se é que eu poderia chamá-lo assim.
   Marcos procurava desesperadamente pela chave nos bolsos de sua calça. Eu conseguía enxergar contornos humanos que vinham em nossa direção. Surgiam de becos, pela rua, do interior das lojas. Dessa vez eles eram zumbis... E eram muitos. Ao nos avistar, alguns dispararam uma corrida em nossa direção.
-Liga a porra do carro! – Lucas gritou. Ele olhava para trás, observando os inimigos que se adiantavam em nossa direção.
-Vai! –João entrava em pânico. De fato estávamos todos nervosos. Marcos ainda não havia encontrado a chave do veículo. Notei que em certo momento ele parecia se lembrar de algo, e então desistiu de procurar. Ele parecia frustrado e decepcionado consigo mesmo.
-Eu deixei na loja! –
   Sem hesitar, ele saiu do carro e correu na direção do estabelecimento comercial. Deixando a porta do veículo aberta, Marcos correu apressado até o balcão. Os desmortos estavam cada vez mais próximos. Eram dezenas deles. Logo estavam cercando o carro, batiam nas janelas, tentando nos alcançar. O vidro começava a estilhaçar, sob respingos de sangue. Um dos desmortos tentou entrar pela porta do motorista, que eu tive a sorte de conseguir fechar a tempo. Alguns infectados andavam em direção à loja de conveniências. Percebí que a situação era ruim quando ví a arma de Marcos sobre o painel.
-Ele ta fudido, nem tenta. – Disse Amanda.
-Sem ele a gente não sai daqui! – Lucas respondeu.
   Fiquei alguns instantes pensando no que fazer. As janelas não aguentariam por muito tempo, eu precisava ajudar o Marcos, sobretudo porque ele estava com as chaves. Peguei a pistola e fiz mira no desmorto que tentava quebrar a janela do motorista. Todos olhavam para mim naquele momento. Lucas acenou com a cabeça, me incentivando.
   Destravei a arma e disparei três vezes pela janela, que ficou perfurada e rachada em diversos pontos, mas inteira. Dois zumbis haviam caído mortos do lado de fora. Saí do veículo e fechei a minha porta. Disparei contra alguns infectados que correram em minha direção, sem conseguir matá-los. Fui em direção à loja de conveniências.
   Marcos estava ao canto da loja, tentando manter a distância com pelo menos sete zumbis que o cercavam. Ele estava apenas com um cabo de vassoura metálico em suas mãos. Deferia golpes certeiros contra os desmortos que avançavam sem hesitação.
   Eu me aproximei disparando contra os zumbis, que foram caindo um a um. Acabei gastando mais balas que o necessário, mas eu não era profissional. Retirei e recoloquei o pente para checar a munição. Travei a Taurus PT 59 e entreguei-a ao seu dono. Ele largou o cabo de vassoura que segurava.
-Valeu. – Marcos dizia enquanto guardava a arma na cintura. –Agora vamos sair daqui. –
 -Ta com a chave aí? – Perguntei. Ele levantou sua mão direita, deixando à mostra um molho de chaves. Andamos na direção da saída e nos deparamos com uma situação caótica: O carro estava cercado por infectados que tentavam atacar a todos em seu interior.
-Mas que droga... – Eu disse. Marcos já fazia mira, segurando firmemente sua pistola. O problema era que mais zumbis estavam vindo. Dessa vez em nossa direção. Eu e Marcos estávamos mais expostos, longe de qualquer proteção física. Peguei o cabo de vassoura que estava no chão e aguardei pelos infectados.
   Ao meu lado, diversos disparos foram executados, enquanto Marcos se aproximava andando de nosso veículo. Os zumbis caíam rapidamente, Marcos parecia não errar um único tiro. Depois de alguns segundos, o veiculo estava livre de ameaças, e corremos para dentro dele.
-Finalmente vocês chegaram! Estavam namorando lá dentro?! – Perguntou João atônito. Marcos ligou o carro e acelerou para longe dali, cantando pneus. O carro passava velozmente pelos zumbis que tentavam alcançá-lo. Sentí um solavanco quando atropelamos um desmorto que atravessou o nosso caminho.
-Você quebrou a minha janela?! – Perguntou Marcos exaltado, quando viu as marcas à bala feitas por mim.
-Eu precisava sair do carro, ué! – Respondí. Ele me olhou por alguns segundos e respirou profundamente, como se tentasse manter a calma.
   Marcos travou a arma e me pediu que a guardasse no porta-luvas. Analisei por alguns segundos a Taurus, antes de colocá-la no lugar. Eu sempre fui aficcionado por armas, mas desde que tudo isso havia começado, eu não tinha tempo para analisá-las tanto quanto costumava fazer.
-Alguém sabe em que diabos de cidade nós estamos? – Perguntei.
-Mangaratiba – Respondeu Amanda. Todos permaneceram em silêncio por alguns instantes. Até eu me lembrar de algo. Ainda estava curioso sobre a
-Marcos... O que você quis dizer com “Todos os ônibus saíram de rota”? – Ele me observou por alguns instantes.
-Construíram um muro em volta da cidade. No início os ônibus de evacuação podiam passar, mas quando Minas e São Paulo foram atingidos pelo vírus, o governo fechou todo o acesso de entrada e saída das regiões infectadas.
-O vírus saiu do Rio?! – Amanda perguntou, parecendo nervosa.
-Não apenas saiu. Na madrugada de ontem, a presidente decretou estado de epidemia em diversos estados da região sudeste. – Marcos tomou uma golada do uísque guardado no carro.
-Que merda! – João exclamou. – Quer dizer que estamos presos nesse inferno?
-É... Parece que sim.
   Marcos saiu da cidade e rumou à capital do Estado. O caminho foi de todo calmo, porém tivemos de passar por muitas barricadas e proteções abandonadas. O exército havia lutado até o último homem. Tinham corpos na estrada, já em avançado nível de decomposição. O cheiro de podre era insuportável.
   Havia viaturas abandonadas pela pista. Alguns dos corpos tentavam rastejar para longe dali. Seus corpos estavam tão danificados que não podiam sequer ficar de pé. Marcas de sangue eram vistas em todo o lugar.
   Já estávamos no carro há horas. No meio do caminho, eu havia tirado um tempo para cochilar, enquanto os demais conversavam sobre assuntos alheios. Eu estava cansado, afinal era a única pessoa que não havia dormido pela noite. Sem contar o Marcos, que eu não sabía. Após algumas horas de sono, abrí os olhos vagarosamente.
   Levantei a cabeça e ví pela janela que estávamos passando por uma praia. Observei o mar, a areia deserta. A outra mão estava completamente congestionada. Os carros eram abandonados na pista, as pessoas queriam sair da cidade o mais rápido possível. Porém a nossa via estava deserta, não tinha sequer um carro em nosso caminho.
  
-Gente... Alguém pode me explicar por que estamos na capital? Na segunda cidade mais populosa do Brasil?- Eu perguntei para todos, pensando na quantidade de infectados da cidade. Marcos tinha outro cigarro na boca. Soltou uma baforada de fumaça pela janela.
-Vamos procurar sobreviventes, parceiro. Quanto mais gente, melhor. – Refletí naquelas palavras por alguns momentos. Talvez ele estivesse certo, mas não era arriscado demais procurar justo na capital? Antes que eu pudesse perguntar algo, ele completou sua resposta. –Quanto maior a cidade, maior é a chance de ter alguém vivo nela. –
   Porém era uma via de mão dupla. Apesar de podermos encontrar mais pessoas sadias, enfrentaríamos mais daqueles demônios. Hordas gigantes que nos perseguiriam. Eu não conseguí parar de pensar nisso por muito tempo.
-Hey, o seu nome é Matheus, né? – Amanda perguntou. Acenei com a cabeça positivamente em resposta. –Curte a brisa, sente o ar fresco do litoral. Não é bom? – Ela disse para mim, sorrindo. Era um lindo sorriso. Sorrí para ela e olhei para o céu.
   Eu estava de fato mais calmo. Encostei a cabeça no banco e aproveitei a paisagem, olhando para todos os lugares onde não se via destruição. O carro passeava suave pelas ruas, o som estava desligado.
 -Que tal a gente parar na praia um pouco? – Perguntou Lucas. Todos olharam para ele, com um misto de esperança e negação.
-Até que não é uma má ideia. – Marcos respondeu, sem tirar os olhos da pista. – Mas a gente vai ter que deixar pra depois, talvez na volta.
-Volta? – Perguntou Amanda. –Você está pensando em ir para onde?
-Eu sei lá, mas não vou passar a noite na cidade grande. Como o Matheus disse, é muito arriscado. Talvez a gente possa dormir na estrada. Em alguma região deserta. –
   De repente, o carro parou. Fui assustado pelo forte solavanco que empurrou o meu corpo para frente. Foi sorte eu conseguir me segurar a tempo. Havíamos parado em frente a um enorme hotel, que estava à direita do carro. Marcos havia ‘estacionado’ no canto da pista e olhava atentamente para a porta do edifício, onde estava escrito “Sobreviventes dentro”.
-Vamos dar uma olhada. – Disse Marcos, enquanto jogava seu cigarro fora.
-Tem certeza de que você quer sair do carro? – João perguntou assustado.
-Não precisa ir, se não quiser. –
   Saímos do veículo e olhamos para o hotel por alguns segundos. Era um prédio enorme, com incontáveis janelas de um lado ao outro. Por toda o lugar, o silêncio era absoluto. Nenhum carro passava pela rua.
-Senhoras e senhores... Bem vindos ao Copacabana Palace! – Marcos disse, com um sorriso estampado no rosto.
-Eu não quero ser estraga-prazeres, mas não tenho arma. – Lucas se manifestou. –E não quero morrer também.
-E eu não quero entrar nesse prédio enorme sem saber onde é a saída. – Disse João. Amanda suspirou impacientemente.
-Você- Marcos apontou para João. - Dá a sua katana pro garoto entrar e não saia do carro. – O menino obedeceu às suas ordens.
   Após algum tempo perdido, adentramos o hotel. Era como entrar em uma fortaleza antiga. O ambiente era silencioso e triste. Havia uma piscina enorme logo na entrada, mas já não tinha uma imagem tão agradável. As mesas estavam caídas, havia sangue na água e por todo o chão. Corpos em decomposição largados pelo caminho.
   Assim que entramos no prédio, percebeu-se que teríamos grandes dificuldades: Não havia luz. Os corredores eram silenciosos e escuros. Tirei minha lanterna da calça e iluminei o caminho. Subimos pela escada, tentando não fazer muito barulho. Podíamos ouvir o som dos cacos de vidro quebrando-se com os nossos passos. Tentamos nos manter próximos por todo o caminho. O clima era assustador, eu não podía ver mais que dois metros a minha frente.
   Depois de alguns andares, Amanda abriu a porta da escada: Estávamos em um longo corredor escuro. Luzes de emergência piscavam em seu final, onde podíamos ver um corpo mutilado ao chão. Um cheiro de podre dominava o ar.
-Alguém? – Marcos perguntou em voz alta, com a pistola pronta. Sua voz ecoou pela escuridão, sem resposta. Eu tinha, em uma mão, a lanterna que havia pegado na loja de conveniências. E na outra, minha faca. Eu tentava iluminar tudo o que conseguia, mas estava trêmulo. Ouvía-se um som de goteira ao longe. Meu coração acelerava cada vez mais, eu estava com um mau pressentimento. 
-Tem alguém vivo aí?! – Lucas gritou com toda a sua voz. O eco era absurdamente alto. Aguardamos por alguns instantes até que não se ouvisse mais nada.
 –Não tem ninguém, vamos embora daqui antes que alguém morra. – Nesse momento, ouvimos o som de uma porta abrindo-se atrás de nós. Todos se viraram assustados. Eu direcionei a luz de minha lanterna: Um homem nos encarava parado, com um facão. Pela porta aberta, entrava um forte feixe de luz.
-O que vocês estão fazendo aí fora?! Querem atrair mais desses monstros? – Ele perguntou. Tinha uma voz rouca, como a de um senhor de idade. Era de altura mediana, com cerca de trinta anos.
-Vamos embora daqui, venha conosco. Temos comida e água. – Eu disse.
-Ir embora... E ir para onde? Na televisão diz que todos os lugares estão assim, com essa praga maldita.- Ele fez uma pausa. - Aliás... O noticiário apenas dizia, quando a televisão funcionava. – Com um barulho enorme, outras portas se abriram. A luz vinha de várias portas, formando diversos feixes de luz pelo corredor. Rostos deformados estavam parcialmente iluminados. Dezenas de mortos-vivos no corredor. Eles nos olharam por alguns instantes. Até hoje eu tenho curiosidade em saber em que os infectados pensaram naquele momento. Mas aquele momento não durou muito. Logo eles gritavam como animais no abate, enquanto corriam endemoniados em nossa direção.
-Corram! – Gritou Lucas, enquanto se posicionava com a katana no meio do corredor.
-Vem logo! – Eu disse, puxando-o para longe dali. Logo estávamos todos correndo desesperadamente ao longo do corredor. O homem desconhecido tentou trancar-se novamente, mas os infectados entraram em seu quarto.
-A culpa é de vocês! Malditos sejam! Malditos sejam! – Gritava o homem, enquanto adentrava cada vez mais o seu cômodo.
-Não olha pra trás, só corre! – Marcos me aconselhava ofegante. Abrimos a porta da escada e descemos correndo, um atrás do outro. Os malditos eram insistentes. Espremiam-se pela pequena passagem, pulando os degraus tentando nos alcançar.
   Ao sair pela porta do térreo, nos deparamos com mais zumbis que nos acompanhavam, berrando e correndo em nossa direção. Quando fomos atacados diretamente por um senhor de idade, Amanda não hesitou em acertar-lhe a cabeça com o machado. O infectado caiu ao chão já morto.
   Saímos do hotel e corremos na direção do veículo estacionado, onde jazia um corpo do lado de fora. Tinham mais de trinta zumbis correndo em nossa direção. Desesperados, nós praticamente pulamos para dento do carro. Marcos disparou algumas vezes antes de acelerar.
   Conforme o carro se distanciava, os berros se tornavam cada vez mais baixos, até ficarem imperceptíveis. João estava quieto, em estado de choque.
-Alg... Alguém foi mordido? – Ele perguntou gaguejando.
-Não. – Respondí.
-Agora eu concordo: A gente precisa mesmo sair da cidade. – Disse Amanda.
   Seguimos um longo caminho em silêncio. Eu não parava de pensar no homem que havia morrido nos preguejando. E tinha certeza de que muitos também estavam na mesma situação.
-Pessoal... Eu sei o que vocês estão pensando. Mas não foi culpa nossa. – Marcos falou para todos.
-Claro que foi culpa nossa! A gente atraiu aqueles zumbis todos! – Lucas gritou. Eu sentía a minha consciência pesar. Amanda tinha o olhar perdido, parecía tão aflita quanto eu. Novamente caímos no silêncio. Marcos não tentou falar mais nada por um bom tempo.
   Viajamos alguns quilômetros de carro pela estrada, se distanciando das aglomerações populacionais. Marcos parou em um ponto bem longe de qualquer cidade. Numa estrada sem nenhum carro, envolta por zona rural. Era um lugar tranquilo, como se o inferno ainda não tivesse chegado até lá. Ele puxou o freio de mão.
-Vamos passar a noite aqui. -

quarta-feira, 6 de julho de 2011

[História Paralela] - Caio Bastos




FADE IN:

INT.Casa-Quarto-Dia

Caio está deitado dormindo, em cima da mesa de cabeceira seu celular marca 5:59. Os pássaros voam no exterior, o Sol está nascendo. De repente um som de alarme corta o silêncio. O despertador tocava, como de costume, às 6:00. Ele acorda assustado.

Caio, homem branco na casa dos trinta anos, meio calvo, e um pouco acima do peso se senta na cama. Passa as mãos pelo rosto, ainda nervoso.
“Odeio segundas-feiras” Disse para si mesmo, ainda sonolento.

                  
INT.Casa-Banheiro-Dia

Caio toma banho, ao sair ele se enxuga e vai pra frente do espelho onde começa a pentear o cabelo. Ele se olha no espelho e não fica satisfeito, e volta a pentear o que ainda tem de cabelo, tentando esconder sua calvície.

                 
Maldita herança genético, só tenho trinta anos e meus cabelos começaram a me abandonar a uns três...Se continuar desse jeito quando eu chegar aos trinta e cinco já vou esta careca...E sozinho que mulher vai querer uma bola de bilhar como marido? Apesar de que minha mãe não ligou muito quando meu pai começou a perder o cabelo, ela dizia que na pior das hipóteses podia usar a careca dele como espelho... Meu pai não achou a piada tão boa quanto eu e ela achamos naquele momento.

INT.Carro-Dia

Caio está dirigindo, a rua esta meio deserta.

                   Caio
Que legal! Se eu soubesse que não ia pegar transito eu saia mais tarde de casa.

Uma viatura corta o carro dele e acelera à toda a velocidade. Caio ouve o som de sirene se distanciando.
                   Caio
Vai acabar batendo se continuar correndo desse jeito.

INT.Padaria-Dia

Ao entrar Caio vê uma bela jovem de Cabelo preto e olhos verdes atrás do balcão ela aparenta ter entre 20 e 25 anos, ele se aproxima do balcão e ela vai atende-lo com um sorriso no rosto.

                   Karen
                                        O que deseja, Senhor Caio?

                   Caio (Pensando)
  Duas coisas, que você para de me chamar de senhor e que você saia comigo.

                   Caio
                                      Pão na chapa e café com leite.

                   Karen
                                                     É pra já!

Karen vai até a chapa e começa a preparar o pão, na televisão no alto da parede esta passando uma reportagem de um acidente onde as vitimas estão atacando os médicos que foram socorrê-los, Karen coloca o pão e o café sobre o balcão. Ela e Caio olham para a televisão.

                   Karen
                                              Olha que loucura!

                   Caio
                                                Quando foi isso?

                   Karen
                                         Acho que foi quase agora!

Caio começava a comer quando ela se afastou para atender outro cliente.

                   Caio (Pensando)
Faz tanto tempo que eu gosto dela, e nunca tive coragem de me declarar, mas também onde uma mulher linda como ela ia querer um cara como eu?
Caio termina de comer e Karen se aproxima pra pegar o prato e o copo que Caio usou.

                   Karen
                                        Até amanha senhor Caio.

                   Caio
                                                Até amanha!

EXT.Escola-Dia

Caio esta cruzando o portão ele para e olha para o lado como se estivesse procurando por alguma coisa.

                   Caio(Pensando)
 Cadê o senhor Agnaldo e sua inseparável prancheta?Será que ele esta doente?

Caio volta a caminhar.

INT.Escola-Sala Dos Professores-Dia

Todos os professores estão sentados a diretora do colégio Rosélia está de pé em frente a eles, quando Caio entra ele nota a expressão preocupada no rosto dela, ele se senta ao lado da professora de ciências, uma de suas colegas de trabalho mais antigas.

                   Caio
                                             O que esta havendo?

                   Patrícia
                   Caos!

                   Rosélia
...Então é isso, as aulas estão suspensas até segunda ordem, até que resolvam esse problema.

                   Caio
                                                Que problema?

                   Rosélia
Ainda não sabemos, mas é alguma coisa com a zona de saúde. Só sei que as ordens foram pra suspender as aulas...
                   Professora de educação física:
                                               Quem deu essa ordem?

                   Rosélia
Ontem à noite eu recebi uma ligação da secretaria de educação mandando que as aulas fossem suspensas, tentei entrar em contacto com eles depois mas...

                   (Ciências)
                                                     “Mas” o quê?

                   Rosélia
                                                Perdemos contato.

                   Caio
                                     Com a secretaria de educação?

                   Rosélia
Com tudo, Caio... As linhas estão congestionadas, os telefones estão até parando de dar linha. E ninguém sabe o porquê de tudo isso. Como eu disse as aulas foram suspensas, eu tenho que mandar os alunos de volta pra casa.

                   Caio
                  Isso quer dizer que nós também podemos ir embora?

                   Rosélia
                                                    Sim, Caio!

                   Caio(Pensando)
                   Uhuou!

Rosélia caminha até a porta enquanto os outros professores ficam divagando sobre o ocorrido. Caio anda com passos apressados em direção à saída.

INT.Escola-Banheiro-Dia

Caio termina dá descarga, aliviado por urinar depois de garrafas e mais garrafas de cerveja. Sim, ele ainda se lembrava da bebedeira de domingo à noite. Depois caminha até a pia e lava as mãos.

                   Caio
          Férias extras! Só os alunos devem ficar mais felizes do que eu.

Caio sai do banheiro.

INT.Escola-Corredor-Dia

Ao sair do banheiro ele vê o zelador Agnaldo caminhar vagarosamente, de uma forma desajeitada em direção ao interior do colégio. Onde se escuta as risadas e a falação dos estudantes, Caio nota o uniforme sujo de Agnaldo, ele dá um passo em direção ao porteiro, mas desiste, e continua a sua caminhada em direção a saída assoviando a musica do filme “Jogos Mortais”.

EXT.Escola-dia

Ao sair ele vê um garoto com roupa da escola encostado no muro, de olhos fechados. Uma garota parece estar com a boca em seu pescoço.

                   Caio(Pensando)
O que eles estão pensando? Isso aqui não é lugar pra ficar dando chupão no pescoço.

Ele caminha em direção aos dois.

                   Caio
                                                   Vocês ai!

A garota olha na direção de Caio que para ao notar que a boca dela esta toda suja de sangue, o garoto cai desfalecido enquanto sangue jorra de sua jugular.

                   Caio(Pensando)
                                             Mas que merda é essa?

A Garota anda cambaleante em sua direção, emitindo alguns grunhidos.

                   Caio
                         Vai com calma menina... Fique longe de mim!

A Garota continua a caminhar esticando o braço em direção a Caio que começa a ficar com medo. Quando ela está perto demais, Caio acerta um murro em seu rosto, derrubando-a. Caio leva a mão ate a boca achando que talvez tenha exagerado.

                   Caio
                                                Me desculpa!

A garota se levanta e volta a andar em direção a Caio que da alguns passos pra trás. Ele se assusta ao ouvir sons de disparos vindos da rua.

                   Caio
                                               Droga! Droga!

Ele empurra a garota para longe de si. Sem equilíbrio algum, ela cai novamente. Gritos ecoam vindos de dentro do colégio. Caio olha em direção ao prédio da escola, a garota está se levantando novamente.

                   Caio
                                                  Que se dane!

Ele corre em direção ao portão quando escuta o barulho de uma janela sendo quebrada.

                   Caio (Pensando)
            Cambada de vândalos... Eu vou pedir demissão dessa escola.

EXT.Rua-Dia

Caio sai de dentro da escola e caminha até o seu carro, há pessoas correndo desesperadas, uma viatura policial passa em alta velocidade, atropelando uma pessoa que voa longe com o impacto.

                   Caio
                                              Que inferno!

Caio tenta abrir a porta do carro, mas tem dificuldade em encaixar a chave.

                   Caio
                   Idiota!

Ele se dá conta de que estava tentando encaixar a chave de sua casa, então corrige seu erro, colocando a chave certa.

                   Caio
                                                     Pronto!
INT.Carro-Dia

Ele dá a partida no carro e começa a procurar uma estação de radio que funcione, até finalmente achar uma.

                   Locutor(Off)
Uma onda de violência está atingido o Rio De Janeiro, ainda não temos noticias se esse terrível evento esta se repetindo em outros estados mais ao que tudo indica pessoas estão sendo atacados por pessoas que parecem estar em transe, a policia foi chamada, a relatos de que algumas pessoas menos baleadas continuam a caminhar como se nada tivesse acontecido...Aconselhamos que todos permaneçam em suas casas, ou seus trabalhos...

Uma multidão de alunos começa a sair correndo de dentro da escola, Caio manobra o carro e sai tentando desviar dos alunos.

                   Caio(Pensando)
Meu Deus! Meu Deus! Quando eu pensava que minha vida não podia piorar acontece uma merda dessas...Eu preciso ver se a Karen esta bem.

INT.Padaria-Dia

Caio entra na padaria ele vê alguns produtos espalhados pelo chão, e algumas manchas de sangue.

                   Caio (Pensando)
                                             Tomara que ela esteja bem.

Caio passa pra detrás do balcão e caminha até uma porta e tenta abrir, mas não consegue. De repente a porta se abre e Caio leva uma pancada na cabeça que fá-lo cair no chão atordoado.

                   Karen
                                                 Senhor Caio!

                   Caio (Zonzo)
                   Quem?

Karen o puxa pra dentro.

INT. Padaria-Cozinha-Dia

Além de Karen há mais duas pessoas sentadas num canto: Um homem e uma mulher.

                   Karen
                                            O senhor está bem?

                   Caio
                                       Acho que alguém me bateu.

                   Karen
Fui eu me desculpa, pensei que fosse um zumbi...

                   Caio
                                               Não diga isso!

                   Karen
                   Isso o quê? Zumbi?

                   Caio
                                                 É meio estranho.

                   Homem#1
                                    E o que você acha que eles são?

                   Caio
Não sei. Talvez seja alguma doença, como a gripe aviária...

                   Mulher#1
 A gripe aviaria não fazia as aves comerem umas as outras...

                   Caio
Eles podem ter omitido essa parte...
                 Mulher#1
Eles quem? Os agentes secretos? Cai na real.
                   Karen
                      Mas o que o senhor veio fazer aqui, senhor Caio?

                   Homem#1
                                                 Ele está fugindo.
                   Caio
                    Na verdade eu vim pra ver se você estava bem.

                   Karen
                                                    Por quê?

                   Mulher#1
                                                    É. Por quê? 
                   Caio
Era caminho eu vim ver se você quer uma carona pra sua casa...

                   Homem#1
Na televisão disseram pra ficarmos em casa. Se não tivermos em casa, pra não tentar chegar lá enquanto a policia não resolver a situação.

                   Caio
Eu acabei de vir lá de fora, seja lá o que está acontecendo não parece que a policia vai resolver isso tão cedo... Então, Karen?

Ela pensa por alguns segundos.

                   Karen
                                                  Tudo bem!

                   Mulher#1
                        Você está louca? Vai acabar morrendo lá fora.

                   Caio
                                             Eu vou estar com ela.

                   Homem#1
                       O que aumenta e muito as chances dela morrer.

                   Caio
Escuta aqui cara...

O Homem#1 Se levanta. Ele tem quase dois metros de altura, Caio dá um passo pra trás.

                   Homem#!
                   O quê?

                   Caio
Nada! Só ia dizer que vou fazer de tudo pra proteger ela enquanto estivermos juntos.

Karen abraça a Mulher#1.

                   Mulher#1
                                                      Boa sorte!

                   Karen
                                              Pra vocês também!

Antes de sair, Caio pega um rolo de esticar massa. Karen está com uma frigideira de aço.

EXT. Rua-Dia

Caio abre a porta do carro pra Karen entrar, ele vê alguns zumbis se aproximando, depois que ela entra, Caio passa para o lado do motorista e entra.

INT.Carro-Dia

Caio dá a partida no carro. Karen olha atônita o caos que se espalhou pela cidade.

                   Karen
                      O que será que aconteceu? Por que tudo isso?

                   Caio
Deve ter sido algum ataque terrorista, uma arma biológica, mataram o Osama e deu nisso.

Duas viaturas de policia passam em alta velocidade, logo atrás das viaturas esta uma ambulância.

                   Karen
                                             Posso ligar o rádio?
                   Caio
                   Claro!

Karen liga o Radio.

                   Locutor (Off)
Recebemos novas informações ao que parece aqueles que são mordidos se transformam e passam a atacar quem estiver por perto...

                   Karen
                                   Eu disse que eles eram zumbis!

                   Caio
Pode ser só uma doença contagiosa...

                   Karen
Por que é tão difícil acreditar que eles sejam zumbis?
Caio
Porque tudo que eu aprendi nos meus anos na faculdade, me diz que zumbis não existem.

                   Karen
                                                Olha lá pra fora!

                   Caio (Pensando)
                                 Ela ta certa... São zumbis... Que merda!

Ao passar por um cruzamento, o carro é atingido por outro veículo, o carro de Caio capota uma vez e fica com as rodas pra cima.

                   Caio
                                               Você está bem?

                   Karen
                                                Acho que sim!

                   Caio
                                             Vamos sair daqui!

EXT.Rua-Dia

Caio e Karen se arrastam pra fora do carro, alguns zumbis estão se aproximando deles.

                   Caio
                   Droga!

Caio usa o Rolo de esticar massa pra bater na cabeça de um zumbi, depois ele bate na cabeça de outro e o rolo quebra.

                   Karen
                                                     E agora?

                   Caio
                            Fica atrás de mim e joga essa frigideira.

Karen entrega a frigideira pra Caio, ele começa a acertar os zumbis na cabeça enquanto eles vão passando.

                   Karen
                                          Não vamos conseguir!

                   Caio
                                            Claro que vamos!

Caio empurra um zumbi com o ombro e acerta outro com a frigideira.

                   Caio
                   Corre!

Caio começa correr Karen logo depois, não demora muito e Karen já esta bem na frente de Caio que começa a ficar sem fôlego.

                   Caio
                                      Quer fazer o favor de esperar?

Karen olha pra trás.


                   Karen
                                          Você disse pra correr!

                   Caio
                Eu não pensei que você fosse a versão feminina do Usain bolt!

Karen vê os zumbis vindo em sua direção, enquanto Caio tenta recuperar o fôlego.

                   Karen
                                      Eles estão se aproximando.

                   Caio
                                                   Tem razão!

Caio vê uma Moto Biz C/100 caída no chão.

                   Caio
                                    Nossas preces foram atendidas!

Caio caminha até a moto.

                   Karen
                                               Está sem chave!

                   Caio
                 Essas belezinhas não precisam de chave. Tem partida elétrica!

Caio levanta a moto e dá a partida.

                   Caio
                                    Legal, está funcionando! Sobe aqui!

Karen sobe na moto e segura na cintura de Caio.

                   Karen
                                   Minha casa não é muito longe!

Um sorriso brota no rosto de Caio por ele estar tão perto de Karen.
                                                                                                       CORTA PARA:
EXT. Rua-Dia

Caio estaciona a moto em frente à casa de Karen e uma vila de casas, eles descem, alguns zumbis avançam na direção deles.

                   Caio
                                                  Vai rápido!

Caio acerta um zumbi enquanto Karen tenta abrir o portão.

                   Karen
                                              Droga de chave!

                   Caio
                                                 Anda logo!

Karen consegue abri o portão, assim que ela abre uma criança zumbi morde a mão dela.

                   Karen
                                                  Aaaaaahh!

                   Caio
                   Não!

A Criança zumbi vai morder Karen outra vez mais Caio chuta a criança, depois a acerta na cabeça com a frigideira.

                   Caio
                                              Você está bem?

                   Karen
                                   Claro que não, ela me mordeu!

Caio fecha o portão, mas não consegui trancar, ele pega Karen no colo e quase cai com o peso.

                   Caio
                                       Qual dessas é a sua casa?

                   Karen
                                                A de numero oito.

Caio gira a maçaneta e a porta abre.

                   Caio
                             Você deixa a porta da sua casa aberta?

                   Karen
                               Não tem nada de valor pra roubar!

INT. Casa De Karen-Sala-Dia

Caio empurra a porta com o pé fazendo-a bater na parede. A sala tem um sofá de três lugares, uma estante onde tem uma televisão de 14 polegadas, algumas fotos e um DVD. Caio coloca Karen no sofá.

                   Karen
                                   Eu disse que a casa era simples.

Caio se senta no braço do sofá e observa a expressão triste no rosto de Karen.

                   Caio
                                      Você quer alguma coisa?

                   Karen
Tinha tantas coisas que eu queria fazer antes de morrer...

                   Caio
                                 Quem disse que você vai morrer?

                   Karen
Por favor, Caio eu fui mordida o que você acha que vai acontecer? Não precisa ser gênio pra saber.

                   Caio
                                              Eu sinto muito!

                   Karen
                                     Por que você foi me buscar?
                   Caio
                                                 Eu já disse!

                   Caio (Pensando)
O que eu estou fazendo? Eu preciso dizer o real motivo...

                   Karen
Você é uma boa pessoa Caio... Espero que você sobreviva a tudo isso...

                   Caio
                                                 Eu te amo!

                   Karen
                   O quê?

                   Caio
Eu te amo, por isso eu fui atrás de você... Precisava saber se você estava bem.

                   Karen
                                 Por que você não me disse antes?

                   Caio
Olha pra você e olha pra mim, meu cabelo já começou a me abandonar, estou acima do peso, e acho que estou a um bombom de perder pra diabetes... E o pior não passo de um professor...

                   Karen
Eu teria saído com você... Não posso dizer que teríamos um relacionamento duradouro, mas poderíamos ter tentado...Eu realmente lamento que você nunca tenha me dito, mas antes tarde do que nunca...Acho que é melhor morrer ouvindo alguém dizer eu te amo, do que viver sem que ninguém nunca tenha te dito isso.

Caio se aproxima e beija Karen no rosto.

                   Caio
                                             Eu queria ter dito!

Karen fecha os olhos e da seu ultimo suspiro, Caio se afasta esperando que ela se levante.
                   Caio
                   Droga!

Uma lagrima desliza pelo rosto de Caio, alguns minutos se passam e Caio permanece olhando quando Karen começa a se mexer, ele escuta o barulho dos zumbis forçando o portão, Karen se levanta e começa a caminhar na direção de Caio que da um passo pra trás enquanto aperta forte o cabo da frigideira, ele fecha os olhos por um instante.  
















                                                                                                     Créditos a Miguel Dante.