-Ela precisa de água. – Eu disse, enquanto observava ainda assustado aquela pessoa que me abraçava tão fortemente. Sentí o calor de seu corpo junto ao meu. Aguardei alguns instantes até que ela me soltasse. Sem dizer nada, a desconhecida apenas nos observou por alguns segundos.
Era branca, de cabelos lisos e cumpridos. Tinha olhos castanhos claros. Vestía uma calça jeans, uma blusa preta e calçava um allstar.
Uma brisa leve soprava pela rua, ainda estava um pouco frio. O Sol iluminava aos poucos a cidade, mas até o momento, não era o suficiente para aquecer.
Uma brisa leve soprava pela rua, ainda estava um pouco frio. O Sol iluminava aos poucos a cidade, mas até o momento, não era o suficiente para aquecer.
Marcos me jogou uma garrafa de água, que apanhei no ar. Tirei sua tampa e tomei uma golada para verificar a temperatura. Estava ideal, bem geladinho.
-Quer? – Perguntei, indicando a garrafa em minha mão. A menina me olhou. Ela parecia um tanto desconfiada. Depois de pensar um pouco, acenou com a cabeça dizendo que sim.
Deixamos que bebesse toda a garrafa, o que não demorou muito. Ela devia mesmo estar com muita sede, e não seria justo negar-lhe água naquele momento. Analisei um pouco a cidade, que parecia acordar. Eu não fazia nem ideia de onde estávamos. Começava a me sentir vulnerável ali.
-Muito obrigada. Eu estava mesmo precisando... – A garota disse, enquanto secava a boca com a costa das mãos.
-Olha! Ela fala! – Disse Marcos com ironia.
-Eu falo... Ando... Mato pessoas que me irritam... – Ela retrucou.
-Ok, então... Vamos nos acalmar, beleza? Acabamos de nos conhecer. – Interví naquilo antes que se tornasse uma briga.
-Eu estava só brincando, foi mal. – Disse Marcos. A menina sorriu.
-Meu nome é Amanda. Como vocês se chamam?
Eu e Marcos nos apresentamos. Logo depois, ele nos apressou a entrar no carro. Em pouco tempo os disparos atrairiam mais zumbis para aquele local, e ninguém queria ter outro encontro forçado com os infectados.
Adentramos o veículo, nos apertando um pouco para que coubesse todo mundo. Lucas e João pareciam surpresos com a nova integrante de nosso pequeno grupo de sobrevivência, se é que eu poderia chamá-lo assim.
Marcos procurava desesperadamente pela chave nos bolsos de sua calça. Eu conseguía enxergar contornos humanos que vinham em nossa direção. Surgiam de becos, pela rua, do interior das lojas. Dessa vez eles eram zumbis... E eram muitos. Ao nos avistar, alguns dispararam uma corrida em nossa direção.
-Liga a porra do carro! – Lucas gritou. Ele olhava para trás, observando os inimigos que se adiantavam em nossa direção.
-Vai! –João entrava em pânico. De fato estávamos todos nervosos. Marcos ainda não havia encontrado a chave do veículo. Notei que em certo momento ele parecia se lembrar de algo, e então desistiu de procurar. Ele parecia frustrado e decepcionado consigo mesmo.
-Eu deixei na loja! –
Sem hesitar, ele saiu do carro e correu na direção do estabelecimento comercial. Deixando a porta do veículo aberta, Marcos correu apressado até o balcão. Os desmortos estavam cada vez mais próximos. Eram dezenas deles. Logo estavam cercando o carro, batiam nas janelas, tentando nos alcançar. O vidro começava a estilhaçar, sob respingos de sangue. Um dos desmortos tentou entrar pela porta do motorista, que eu tive a sorte de conseguir fechar a tempo. Alguns infectados andavam em direção à loja de conveniências. Percebí que a situação era ruim quando ví a arma de Marcos sobre o painel.
-Ele ta fudido, nem tenta. – Disse Amanda.
-Sem ele a gente não sai daqui! – Lucas respondeu.
Fiquei alguns instantes pensando no que fazer. As janelas não aguentariam por muito tempo, eu precisava ajudar o Marcos, sobretudo porque ele estava com as chaves. Peguei a pistola e fiz mira no desmorto que tentava quebrar a janela do motorista. Todos olhavam para mim naquele momento. Lucas acenou com a cabeça, me incentivando.
Destravei a arma e disparei três vezes pela janela, que ficou perfurada e rachada em diversos pontos, mas inteira. Dois zumbis haviam caído mortos do lado de fora. Saí do veículo e fechei a minha porta. Disparei contra alguns infectados que correram em minha direção, sem conseguir matá-los. Fui em direção à loja de conveniências.
Marcos estava ao canto da loja, tentando manter a distância com pelo menos sete zumbis que o cercavam. Ele estava apenas com um cabo de vassoura metálico em suas mãos. Deferia golpes certeiros contra os desmortos que avançavam sem hesitação.
Eu me aproximei disparando contra os zumbis, que foram caindo um a um. Acabei gastando mais balas que o necessário, mas eu não era profissional. Retirei e recoloquei o pente para checar a munição. Travei a Taurus PT 59 e entreguei-a ao seu dono. Ele largou o cabo de vassoura que segurava.
-Valeu. – Marcos dizia enquanto guardava a arma na cintura. –Agora vamos sair daqui. –
-Ta com a chave aí? – Perguntei. Ele levantou sua mão direita, deixando à mostra um molho de chaves. Andamos na direção da saída e nos deparamos com uma situação caótica: O carro estava cercado por infectados que tentavam atacar a todos em seu interior.
-Mas que droga... – Eu disse. Marcos já fazia mira, segurando firmemente sua pistola. O problema era que mais zumbis estavam vindo. Dessa vez em nossa direção. Eu e Marcos estávamos mais expostos, longe de qualquer proteção física. Peguei o cabo de vassoura que estava no chão e aguardei pelos infectados.
Ao meu lado, diversos disparos foram executados, enquanto Marcos se aproximava andando de nosso veículo. Os zumbis caíam rapidamente, Marcos parecia não errar um único tiro. Depois de alguns segundos, o veiculo estava livre de ameaças, e corremos para dentro dele.
-Finalmente vocês chegaram! Estavam namorando lá dentro?! – Perguntou João atônito. Marcos ligou o carro e acelerou para longe dali, cantando pneus. O carro passava velozmente pelos zumbis que tentavam alcançá-lo. Sentí um solavanco quando atropelamos um desmorto que atravessou o nosso caminho.
-Você quebrou a minha janela?! – Perguntou Marcos exaltado, quando viu as marcas à bala feitas por mim.
-Eu precisava sair do carro, ué! – Respondí. Ele me olhou por alguns segundos e respirou profundamente, como se tentasse manter a calma.
Marcos travou a arma e me pediu que a guardasse no porta-luvas. Analisei por alguns segundos a Taurus, antes de colocá-la no lugar. Eu sempre fui aficcionado por armas, mas desde que tudo isso havia começado, eu não tinha tempo para analisá-las tanto quanto costumava fazer.
-Alguém sabe em que diabos de cidade nós estamos? – Perguntei.
-Mangaratiba – Respondeu Amanda. Todos permaneceram em silêncio por alguns instantes. Até eu me lembrar de algo. Ainda estava curioso sobre a
-Marcos... O que você quis dizer com “Todos os ônibus saíram de rota”? – Ele me observou por alguns instantes.
-Construíram um muro em volta da cidade. No início os ônibus de evacuação podiam passar, mas quando Minas e São Paulo foram atingidos pelo vírus, o governo fechou todo o acesso de entrada e saída das regiões infectadas.
-O vírus saiu do Rio?! – Amanda perguntou, parecendo nervosa.
-Não apenas saiu. Na madrugada de ontem, a presidente decretou estado de epidemia em diversos estados da região sudeste. – Marcos tomou uma golada do uísque guardado no carro.
-Que merda! – João exclamou. – Quer dizer que estamos presos nesse inferno?
-É... Parece que sim.
Marcos saiu da cidade e rumou à capital do Estado. O caminho foi de todo calmo, porém tivemos de passar por muitas barricadas e proteções abandonadas. O exército havia lutado até o último homem. Tinham corpos na estrada, já em avançado nível de decomposição. O cheiro de podre era insuportável.
Havia viaturas abandonadas pela pista. Alguns dos corpos tentavam rastejar para longe dali. Seus corpos estavam tão danificados que não podiam sequer ficar de pé. Marcas de sangue eram vistas em todo o lugar.
Já estávamos no carro há horas. No meio do caminho, eu havia tirado um tempo para cochilar, enquanto os demais conversavam sobre assuntos alheios. Eu estava cansado, afinal era a única pessoa que não havia dormido pela noite. Sem contar o Marcos, que eu não sabía. Após algumas horas de sono, abrí os olhos vagarosamente.
Levantei a cabeça e ví pela janela que estávamos passando por uma praia. Observei o mar, a areia deserta. A outra mão estava completamente congestionada. Os carros eram abandonados na pista, as pessoas queriam sair da cidade o mais rápido possível. Porém a nossa via estava deserta, não tinha sequer um carro em nosso caminho.
-Gente... Alguém pode me explicar por que estamos na capital? Na segunda cidade mais populosa do Brasil?- Eu perguntei para todos, pensando na quantidade de infectados da cidade. Marcos tinha outro cigarro na boca. Soltou uma baforada de fumaça pela janela.
-Vamos procurar sobreviventes, parceiro. Quanto mais gente, melhor. – Refletí naquelas palavras por alguns momentos. Talvez ele estivesse certo, mas não era arriscado demais procurar justo na capital? Antes que eu pudesse perguntar algo, ele completou sua resposta. –Quanto maior a cidade, maior é a chance de ter alguém vivo nela. –
Porém era uma via de mão dupla. Apesar de podermos encontrar mais pessoas sadias, enfrentaríamos mais daqueles demônios. Hordas gigantes que nos perseguiriam. Eu não conseguí parar de pensar nisso por muito tempo.
-Hey, o seu nome é Matheus, né? – Amanda perguntou. Acenei com a cabeça positivamente em resposta. –Curte a brisa, sente o ar fresco do litoral. Não é bom? – Ela disse para mim, sorrindo. Era um lindo sorriso. Sorrí para ela e olhei para o céu.
Eu estava de fato mais calmo. Encostei a cabeça no banco e aproveitei a paisagem, olhando para todos os lugares onde não se via destruição. O carro passeava suave pelas ruas, o som estava desligado.
-Que tal a gente parar na praia um pouco? – Perguntou Lucas. Todos olharam para ele, com um misto de esperança e negação.
-Até que não é uma má ideia. – Marcos respondeu, sem tirar os olhos da pista. – Mas a gente vai ter que deixar pra depois, talvez na volta.
-Volta? – Perguntou Amanda. –Você está pensando em ir para onde?
-Eu sei lá, mas não vou passar a noite na cidade grande. Como o Matheus disse, é muito arriscado. Talvez a gente possa dormir na estrada. Em alguma região deserta. –
De repente, o carro parou. Fui assustado pelo forte solavanco que empurrou o meu corpo para frente. Foi sorte eu conseguir me segurar a tempo. Havíamos parado em frente a um enorme hotel, que estava à direita do carro. Marcos havia ‘estacionado’ no canto da pista e olhava atentamente para a porta do edifício, onde estava escrito “Sobreviventes dentro”.
-Vamos dar uma olhada. – Disse Marcos, enquanto jogava seu cigarro fora.
-Tem certeza de que você quer sair do carro? – João perguntou assustado.
-Não precisa ir, se não quiser. –
Saímos do veículo e olhamos para o hotel por alguns segundos. Era um prédio enorme, com incontáveis janelas de um lado ao outro. Por toda o lugar, o silêncio era absoluto. Nenhum carro passava pela rua.
-Senhoras e senhores... Bem vindos ao Copacabana Palace! – Marcos disse, com um sorriso estampado no rosto.
-Eu não quero ser estraga-prazeres, mas não tenho arma. – Lucas se manifestou. –E não quero morrer também.
-E eu não quero entrar nesse prédio enorme sem saber onde é a saída. – Disse João. Amanda suspirou impacientemente.
-Você- Marcos apontou para João. - Dá a sua katana pro garoto entrar e não saia do carro. – O menino obedeceu às suas ordens.
Após algum tempo perdido, adentramos o hotel. Era como entrar em uma fortaleza antiga. O ambiente era silencioso e triste. Havia uma piscina enorme logo na entrada, mas já não tinha uma imagem tão agradável. As mesas estavam caídas, havia sangue na água e por todo o chão. Corpos em decomposição largados pelo caminho.
Assim que entramos no prédio, percebeu-se que teríamos grandes dificuldades: Não havia luz. Os corredores eram silenciosos e escuros. Tirei minha lanterna da calça e iluminei o caminho. Subimos pela escada, tentando não fazer muito barulho. Podíamos ouvir o som dos cacos de vidro quebrando-se com os nossos passos. Tentamos nos manter próximos por todo o caminho. O clima era assustador, eu não podía ver mais que dois metros a minha frente.
Depois de alguns andares, Amanda abriu a porta da escada: Estávamos em um longo corredor escuro. Luzes de emergência piscavam em seu final, onde podíamos ver um corpo mutilado ao chão. Um cheiro de podre dominava o ar.
-Alguém? – Marcos perguntou em voz alta, com a pistola pronta. Sua voz ecoou pela escuridão, sem resposta. Eu tinha, em uma mão, a lanterna que havia pegado na loja de conveniências. E na outra, minha faca. Eu tentava iluminar tudo o que conseguia, mas estava trêmulo. Ouvía-se um som de goteira ao longe. Meu coração acelerava cada vez mais, eu estava com um mau pressentimento.
-Tem alguém vivo aí?! – Lucas gritou com toda a sua voz. O eco era absurdamente alto. Aguardamos por alguns instantes até que não se ouvisse mais nada.
–Não tem ninguém, vamos embora daqui antes que alguém morra. – Nesse momento, ouvimos o som de uma porta abrindo-se atrás de nós. Todos se viraram assustados. Eu direcionei a luz de minha lanterna: Um homem nos encarava parado, com um facão. Pela porta aberta, entrava um forte feixe de luz.
-O que vocês estão fazendo aí fora?! Querem atrair mais desses monstros? – Ele perguntou. Tinha uma voz rouca, como a de um senhor de idade. Era de altura mediana, com cerca de trinta anos.
-Vamos embora daqui, venha conosco. Temos comida e água. – Eu disse.
-Ir embora... E ir para onde? Na televisão diz que todos os lugares estão assim, com essa praga maldita.- Ele fez uma pausa. - Aliás... O noticiário apenas dizia, quando a televisão funcionava. – Com um barulho enorme, outras portas se abriram. A luz vinha de várias portas, formando diversos feixes de luz pelo corredor. Rostos deformados estavam parcialmente iluminados. Dezenas de mortos-vivos no corredor. Eles nos olharam por alguns instantes. Até hoje eu tenho curiosidade em saber em que os infectados pensaram naquele momento. Mas aquele momento não durou muito. Logo eles gritavam como animais no abate, enquanto corriam endemoniados em nossa direção.
-Corram! – Gritou Lucas, enquanto se posicionava com a katana no meio do corredor.
-Vem logo! – Eu disse, puxando-o para longe dali. Logo estávamos todos correndo desesperadamente ao longo do corredor. O homem desconhecido tentou trancar-se novamente, mas os infectados entraram em seu quarto.
-A culpa é de vocês! Malditos sejam! Malditos sejam! – Gritava o homem, enquanto adentrava cada vez mais o seu cômodo.
-Não olha pra trás, só corre! – Marcos me aconselhava ofegante. Abrimos a porta da escada e descemos correndo, um atrás do outro. Os malditos eram insistentes. Espremiam-se pela pequena passagem, pulando os degraus tentando nos alcançar.
Ao sair pela porta do térreo, nos deparamos com mais zumbis que nos acompanhavam, berrando e correndo em nossa direção. Quando fomos atacados diretamente por um senhor de idade, Amanda não hesitou em acertar-lhe a cabeça com o machado. O infectado caiu ao chão já morto.
Saímos do hotel e corremos na direção do veículo estacionado, onde jazia um corpo do lado de fora. Tinham mais de trinta zumbis correndo em nossa direção. Desesperados, nós praticamente pulamos para dento do carro. Marcos disparou algumas vezes antes de acelerar.
Conforme o carro se distanciava, os berros se tornavam cada vez mais baixos, até ficarem imperceptíveis. João estava quieto, em estado de choque.
-Alg... Alguém foi mordido? – Ele perguntou gaguejando.
-Não. – Respondí.
-Agora eu concordo: A gente precisa mesmo sair da cidade. – Disse Amanda.
Seguimos um longo caminho em silêncio. Eu não parava de pensar no homem que havia morrido nos preguejando. E tinha certeza de que muitos também estavam na mesma situação.
-Pessoal... Eu sei o que vocês estão pensando. Mas não foi culpa nossa. – Marcos falou para todos.
-Claro que foi culpa nossa! A gente atraiu aqueles zumbis todos! – Lucas gritou. Eu sentía a minha consciência pesar. Amanda tinha o olhar perdido, parecía tão aflita quanto eu. Novamente caímos no silêncio. Marcos não tentou falar mais nada por um bom tempo.
Viajamos alguns quilômetros de carro pela estrada, se distanciando das aglomerações populacionais. Marcos parou em um ponto bem longe de qualquer cidade. Numa estrada sem nenhum carro, envolta por zona rural. Era um lugar tranquilo, como se o inferno ainda não tivesse chegado até lá. Ele puxou o freio de mão.
-Vamos passar a noite aqui. -
Matheus uma pergunta oq aconteceu com o caio naquela historia paralela to mt curioso pra saber e ta ficando ótimo a sua historia
ResponderExcluirMaurício, se você pôde notar, no final da história paralela, não ficou claro se ele foi mordido ou não. Mas uma coisa é certa: Ele aparecerá nos próximos capítulos. Continue lendo a história! ;D
ResponderExcluirNova personagem! Branca, olhos castanhos claros, tenis allstars...Sabe o que isso significa? loves is in the air!
ResponderExcluirgente.......eu tenho uma katana e n tenho medo de usa-la!!!!!!!!
ResponderExcluirAmei, amei esse capítulo, não vejo a hora de você finalmente postar o capítulo 11 !
ResponderExcluir*----*